terça-feira, 6 de maio de 2008

Volkswagen Brasília






No início da década de 70, o projeto de Rudolph Leiding, presidente da Volkswagen do Brasil , era desenvolver um novo automóvel para suceder o Fusca. O novo Volkswagen deveria ser prático e econômico para uso nos centros urbanos, oferecendo mais espaço e mantendo a consagrada robustez do Fusca. Após muitos testes, era apresentado ao público, em 1973, o Brasília.

O Brasília tinha linhas mais modernas e retas que as da Variant e ampla área envidraçada, resultando numa ótima visibilidade em todas as direções. Media 4,01 metros de comprimento -- 17 cm menos que o Fusca --, mas a distância entre eixos era a mesma de toda a linha. Era fácil de manobrar e ágil no trânsito. Ficou conhecido por muitos como "a" Brasília, em função de uma estratégia comercial da marca. Como havia uma terceira porta, a Volkswagen o classificou como perua para que recebesse a menor incidência de impostos atribuída na época a utilitários.

Na frente se destacavam os quatro faróis redondos (com quatro fachos altos e dois baixos) e as luzes direcionais embutidas no pára-choque, de lâmina cromada. Visto de lado, o conjunto era harmonioso e equilibrado. Abaixo do grande vidro lateral traseiro ficavam as entradas de ar para a refrigeração do motor. Na traseira, abaixo do pára-choque, uma pequena grade escondia o silenciador de saída única direcionada para a esquerda.

Comportava com conforto quatro passageiros ou mesmo cinco, e esse logo se tornou seu ponto forte. Mas o espaço para as malas não era bom. A bagagem só podia ficar alojada no compartimento dianteiro, pois não havia o segundo porta-malas atrás do encosto do banco traseiro, que o Fusca trazia desde sua concepção em 1934. Era possível colocar alguma bagagem sobre a tampa do motor, mas isso representava risco em caso de freada brusca ou colisão dianteira. O estepe ficava no porta-malas. O bagageiro no teto, que virou até moda na época, era uma alternativa para aumentar a capacidade de carga.

O interior do novo carro era bastante simples. No painel havia velocímetro, marcador de nível de combustível e opcionalmente um relógio. O volante era grande, de 40 cm de diâmetro, e na tampa do cinzeiro havia a indicação da posição das marchas. Os bancos tinham um desenho simples. O Brasília chegou como opção um pouco mais cara ao Fusca, mas a intenção era substituí-lo paulatinamente. O motor refrigerado a ar, de quatro cilindros opostos, 1,6 litro e um carburador fornecia a potência bruta de 60 cv, transmitida às rodas traseiras. E era econômico: fazia até 14 km/l.

Mesmo com pneus diagonais 5.90-14, a estabilidade em curvas era razoável, mas a traseira ainda escapava naquelas tomadas mais rapidamente, ainda que com previsibilidade. Vários proprietários na época optaram por colocar pneus radiais 175/80-14 e rebaixar a suspensão do carro, o que melhorava o comportamento, enquanto outros partiam para rodas de alumínio de 13 pol com pneus 185/70-13.

O Brasília tinha chassi-plataforma específico, mais largo, o mesmo ocorrendo com as bitolas, explicando o comportamento melhor em relação ao Fusca. Outro melhoramento, aplicado a toda a linha a ar, foi a barra compensadora traseira que, por sua ação oposta à da barra estabilizadora tradicional, diminuía a saída de traseira. Ainda fazia de 0 a 100 km/h em 23 s e chegava a uma velocidade final de 132 km/h. Pouco, mas dentro do contexto de utilização da época.

O carro agradou muito ao público e suas vendas logo de início foram boas. Em 1975 foram produzidas 126 mil unidades e fazia sucesso entre jovens e famílias. Durante toda sua produção o desempenho não se alterou muito, mas a adoção de dois carburadores de corpo simples em 1976 elevou a potência a 65 cv. Aceleração, velocidade máxima e principalmente a economia de combustível melhoraram. Mas, como o Fusca, o carro era barulhento para os ocupantes. Com um carburador já era difícil conversar em médias e altas velocidades e, quando passou a ter dois, a coisa ficou ainda pior.

Em novembro de 1976, mais um concorrente chegava ao mercado de pequenos: a Fiat lançava o moderno 147. No ano seguinte o Brasília trazia boas novidades: porta-luvas com tampa, painel com acabamento imitando madeira e novo desenho no estofamento. Na parte mecânica, o sistema de freios passou a ter duplo circuito e a coluna de direção oferecia maior proteção em impactos.

Em 1978 ganhava dois ressaltos sobre o capô, novas lanternas traseiras, com um desenho frisado que melhorava a visibilidade quando sujas, e pára-choques com ponteiras de plástico nas laterais. Por dentro, novo desenho do acionador da buzina, tipo almofada central como no Passat, e o bem-vindo desembaçador elétrico opcional do vidro traseiro. No mesmo ano, em agosto, surgia o modelo de cinco portas. O tamanho era idêntico ao da versão três-portas e com uma terceira janela na lateral, agradou mais aos taxistas do que às famílias.

Com a crise do petróleo todas as fábricas buscaram soluções para tornar seus carros mais econômicos. Um acelerador de duplo estágio passou a equipar o Brasília em 1977. Mas foi um recurso de custo muito reduzido que a VW empregou para alcançar alguma economia, pois levava o motorista a pisar menos fundo. Resultado: não agradou e nunca funcionou muito bem.

Em 1980 seus concorrentes diretos eram o Fiat 147 e o Chevette hatch. Ambos eram mais modernos, velozes e econômicos. Para a década que se iniciava o Brasília LS, versão top de linha, dispunha de novo painel em plástico injetado e com mais instrumentos. Tinha um enorme relógio, velocímetro com hodômetros total e parcial, marcador de combustível e vacuômetro, Os bancos, mais anatômicos, agora contavam com encostos de cabeça e havia um descansa-braço. No motor, os carburadores tinham novos elementos filtrantes. Havia agora uma opção a álcool, de 1,3 litro e potência líquida de 49 cv.

Em maio de 1980 a Volkswagen lançava o Gol. De início com motor 1,3 de 42 cv líquidos, só começou a emplacar quando recebeu o 1,6 de 54 cv no ano seguinte, ainda refrigerado a ar. Mais moderno e atraente, dominou o mercado do Brasília, que viu o encerramento de sua produção em março de 1982, depois de mais de um milhão de exemplares produzidos e 950 mil vendidos no mercado interno.

Ficha técnica
DIMENSÕES

Medidas EXTERNAS

- Entre-eixos: 2,40 m
- Bitola tras.: 1,36 m
- Bitola diant.: 1,32 m
- Comprimento: 4,01 m (LS 4,04 m)
- Altura: 1,43 m
- Largura: 1,60 m
- Vão livre (carregado): 14,9 cm

Medidas INTERNAS

1) Porta malas Diant.:
ALT: 25 cm / LARG: 125 cm / COMP: 81 cm

2) Porta malas Tras.:
ALT: 52 cm (até o teto) / LARG: 135 cm / COMP: 66 cm

3) Assentos Diant.:
ALT. ENCOSTO: 53 cm / LARG: 50 cm / COMP: 48 cm / ESPESSURA ENCOSTO: 10 cm

4) Assento Tras.:
ALT. ENCOSTO: 48 cm / LARG: 135 cm / COMP: 43 cm / ESPESSURA ENCOSTO: 11 cm

5) Largura interna total: 135 cm

Curiosidades

Você sabia?

Que a Brasília foi o PRIMEIRO Volkswagen inteiramente projetado e desenhado fora da Alemanha, o que lhe rendeu muito sucesso.

Foi um dos poucos, ou talvez o único dos projetos inteiramente BRASILEIROS a fazer sucesso pelo mundo fora. Foi por isso que a VW do Brasil decidiu exportar unidades (muitas delas) da Brasília para os mercados como Nigéria, África do Sul, Filipinas, Argélia e Portugal.

As primeiras unidades da Brasília, em 1973, eram oferecidas com carburação simples (60cv), só em 1974 a dupla carburação passou a ser um opcional, e mais tarde, em 1976, depois das queixas de baixo rendimento e alto consumo, a dupla carburaçãoo passou a ser de série.

A Brasília 4 portas, das quais poucos conhecem , já era produzida no Brasil desde 1974, mas somente para exportação. Só em 1978, começou a ser vendida no Brasil, mas como diziam na época: "como opçãoo para táxi".

O recorde de carro mais vendido do Brasil no ano de 1978, (volume anual de vendas) reconhecido pelo "Guiness Book of Records 1995" a da Brasília, com 157.695 unidades, só superado pelo Fusca em 1972, com 223.453 unidades vendidas!!

No mercado interno, venderam-se nos seus 9 anos de mercado cerca de 950.000 unidades da Brasília, mas calcula-se que além deste número, cerca de 100.000 tenham sido unidades de exportação.

No México, o único país onde o carro foi produzido fora do Brasil (linha de montagem), de 1974 a 1981, foram comercializadas cerca de 72.377 unidades. Só no seu primeiro ano de produção, alcançou-se a cifra de 7.882 veículos produzidos.

Portugal, na Europa, detém a exclusividade da importação da Brasília, o que torna este modelo bastante curioso no nosso País.

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