Roubar peça de Fusca para fazer anel era brasa, mora?
Nos anos 1960 e início de 1970, um acessório virou febre entre os rebeldes da época. Muitos curtiam Roberto e Erasmo Carlos, Beatles, Elvis Presley, macacão Lee, calça boca de sino, costeleta e... Brucutu, nome dado a uma pequena capa cromada do bico do lavador de pára-brisa do Fusca, que, depois de roubada, era transformada em anel.
Ao que tudo indica, o termo “brucutu” foi inspirado no paradigma de um personagem de mesmo nome, figura do tempo das cavernas publicada nas tiras dos jornais estadunidenses. Ter um desses no dedo proporcionava o status de ser tão bruto quanto o personagem, além de pressupor a rebeldia e coragem imputada àquele que usava um objetivo roubado.
Com a moda, o brucutu quase desapareceu, tornando-se artigo de colecionador. Encontrar um representante, e seus saudosos ladrões, foi tarefa árdua.
Já entrou no clima? Então, coloque na vitrola o disco do Roberto, na música que dá título à reportagem:
”Olha o Brucutu, Nas histórias em quadrinhos,/Das revistas, dos jornais... Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/Há um tipo curioso e divertido até demais!/ (...)Mora só numa caverna, dorme mesmo é no chão./Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/O seu carro é um dinossauro e veste pele de leão/Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/Anda muito bem armado, briga sempre com prazer/Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/Traz consigo um machado e gosta mesmo é de bater./Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/Mas no fundo Brucutu é bom ”
Encontro com o Brucutu
Por sorte, achamos um no famoso ponto de encontro de colecionadores em São Paulo, a Avenida Duque de Caxias. Enquanto recebia uma resposta negativa do dono na loja Atlas, “Ih, vai ser muito difícil encontrar um desses”, alguém gritou: “Olha um Brucutu aqui!”
Atrás de nós havia estacionado um Karmann-Ghia com dois Brucutus; praticamente um milagre. Ver, pela primeira vez, a peça tão desejada, além de emocionante, despertou a ânsia histórica de também furtá-lo, ato impossível na ocasião. Vamos aos bem-sucedidos:
O jornalista José Carlos Pontes não passava vontade. Entre os 11 e 12 anos, perdeu a conta de quantos Brucutus roubou. “Em Votuporanga todo mundo tinha um anel desses. A gente fazia um buraco na semente de Jabota, achatava a parte de cima e colava o brucutu”, conta Pontes.
Já o concessionário Osmir Ricardo Almeida, de 47 anos, recorda-se de que na infância em Fernandópolis, interior de São Paulo, os anéis serviam até como soco inglês. “A gente colocava uma pedrinha nos buraquinhos e soldava. Ficava parecendo um besouro. Usar um era muito charmoso”.
Fato inesquecível para Osmir decorrido do roubo: “Era o maior esquema para roubar um Brucutu. Um dia, eu e minha turma (lembro do Caíque e do Murilo) fomos roubar o de um Fusca. O dono apareceu na hora. O cara era muito chato e levou a gente para a delegacia”.
O delegado que, ironicamente, levava o nome de Divino chamou os pais dos garotos. Sobrou puxão de orelha e muito sermão. “Ficamos ainda mais invocados com o dono do Fusca. Depois do ocorrido, entramos no carro dele e fizemos todo tipo de sujeira, como xixi, jogar terra e outras porcarias”, diz Almeida.
Outro a ter recordações quentes do tempo do Brucutu é Sidney Penteado (foto), de 51 anos. “No início dos anos 1970, a gente usava o Brucutu para chamar a atenção, além de costeleta (quem tinha cara de bumbum de nenê sofria), cinto de oito centímetro e fivela cinzeiro. Fui pego roubando um brucutu. O dono do carro, mais um amigo dele, me jogaram dentro do carro e ameaçavam levar na polícia. Eu disse que era menino de família, então me levaram para casa. Meu pai ficou muito bravo, pagou o prejuízo e me deu uns tapas na orelha”, lembra.
Olha o jeito dele andar./Brucutu um certo dia foi com Hula passear/- Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/Foi ao baile que o rei Guz/Todo mês costuma dar/Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/Só porque outro rapaz/Pra sua noiva olhou/Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/Brucutu ficou zangado/E seu nariz ele amassou. /Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/Vai Brucutu, vai!/Olha o jeito dele andar.../Que foi que você disse/Eu...eu... nada, Brucutu!/Como é que você dá uma dessa, tchau!
Além de enfeite, o anel servia também para os momentos de briga entre garotos, além de ser sinônimo de virilidade. Segundo Tuca Santana, 53 anos, assessor de imprensa, usar um Brucutu era trafegar no imaginário das meninas. “Ter um era ser tão homem das cavernas quanto o Brucutu, um rebelde. Lembro-me de que na época até houve em Taquaritinga, minha cidade, um bloco de carnaval com o nome de Brucutu”, conta Santana, que não era fã de roubar a peça, mas comprava-a depois de pronta.
Se você tem um anel de Brucutu ou viveu histórias tão brasa quanto as contadas aqui, escreva pra gente. Esperamos contar outras aventuras envolvendo esse cromado objeto de desejo.
Ao que tudo indica, o termo “brucutu” foi inspirado no paradigma de um personagem de mesmo nome, figura do tempo das cavernas publicada nas tiras dos jornais estadunidenses. Ter um desses no dedo proporcionava o status de ser tão bruto quanto o personagem, além de pressupor a rebeldia e coragem imputada àquele que usava um objetivo roubado.
Com a moda, o brucutu quase desapareceu, tornando-se artigo de colecionador. Encontrar um representante, e seus saudosos ladrões, foi tarefa árdua.
Já entrou no clima? Então, coloque na vitrola o disco do Roberto, na música que dá título à reportagem:
”Olha o Brucutu, Nas histórias em quadrinhos,/Das revistas, dos jornais... Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/Há um tipo curioso e divertido até demais!/ (...)Mora só numa caverna, dorme mesmo é no chão./Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/O seu carro é um dinossauro e veste pele de leão/Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/Anda muito bem armado, briga sempre com prazer/Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/Traz consigo um machado e gosta mesmo é de bater./Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/Mas no fundo Brucutu é bom ”
Encontro com o Brucutu
Por sorte, achamos um no famoso ponto de encontro de colecionadores em São Paulo, a Avenida Duque de Caxias. Enquanto recebia uma resposta negativa do dono na loja Atlas, “Ih, vai ser muito difícil encontrar um desses”, alguém gritou: “Olha um Brucutu aqui!”
Atrás de nós havia estacionado um Karmann-Ghia com dois Brucutus; praticamente um milagre. Ver, pela primeira vez, a peça tão desejada, além de emocionante, despertou a ânsia histórica de também furtá-lo, ato impossível na ocasião. Vamos aos bem-sucedidos:
O jornalista José Carlos Pontes não passava vontade. Entre os 11 e 12 anos, perdeu a conta de quantos Brucutus roubou. “Em Votuporanga todo mundo tinha um anel desses. A gente fazia um buraco na semente de Jabota, achatava a parte de cima e colava o brucutu”, conta Pontes.
Já o concessionário Osmir Ricardo Almeida, de 47 anos, recorda-se de que na infância em Fernandópolis, interior de São Paulo, os anéis serviam até como soco inglês. “A gente colocava uma pedrinha nos buraquinhos e soldava. Ficava parecendo um besouro. Usar um era muito charmoso”.
Fato inesquecível para Osmir decorrido do roubo: “Era o maior esquema para roubar um Brucutu. Um dia, eu e minha turma (lembro do Caíque e do Murilo) fomos roubar o de um Fusca. O dono apareceu na hora. O cara era muito chato e levou a gente para a delegacia”.
O delegado que, ironicamente, levava o nome de Divino chamou os pais dos garotos. Sobrou puxão de orelha e muito sermão. “Ficamos ainda mais invocados com o dono do Fusca. Depois do ocorrido, entramos no carro dele e fizemos todo tipo de sujeira, como xixi, jogar terra e outras porcarias”, diz Almeida.
Outro a ter recordações quentes do tempo do Brucutu é Sidney Penteado (foto), de 51 anos. “No início dos anos 1970, a gente usava o Brucutu para chamar a atenção, além de costeleta (quem tinha cara de bumbum de nenê sofria), cinto de oito centímetro e fivela cinzeiro. Fui pego roubando um brucutu. O dono do carro, mais um amigo dele, me jogaram dentro do carro e ameaçavam levar na polícia. Eu disse que era menino de família, então me levaram para casa. Meu pai ficou muito bravo, pagou o prejuízo e me deu uns tapas na orelha”, lembra.
Olha o jeito dele andar./Brucutu um certo dia foi com Hula passear/- Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/Foi ao baile que o rei Guz/Todo mês costuma dar/Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/Só porque outro rapaz/Pra sua noiva olhou/Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/Brucutu ficou zangado/E seu nariz ele amassou. /Olha o Brucutu, Bru-cu-tu!/Vai Brucutu, vai!/Olha o jeito dele andar.../Que foi que você disse/Eu...eu... nada, Brucutu!/Como é que você dá uma dessa, tchau!
Além de enfeite, o anel servia também para os momentos de briga entre garotos, além de ser sinônimo de virilidade. Segundo Tuca Santana, 53 anos, assessor de imprensa, usar um Brucutu era trafegar no imaginário das meninas. “Ter um era ser tão homem das cavernas quanto o Brucutu, um rebelde. Lembro-me de que na época até houve em Taquaritinga, minha cidade, um bloco de carnaval com o nome de Brucutu”, conta Santana, que não era fã de roubar a peça, mas comprava-a depois de pronta.
Se você tem um anel de Brucutu ou viveu histórias tão brasa quanto as contadas aqui, escreva pra gente. Esperamos contar outras aventuras envolvendo esse cromado objeto de desejo.
Texto: Adriana Bernardino
Fotos: Da autora/divulgação
WEBMOTORS
Um comentário:
Cara que coisa mais tosca.
NUNCA O BRUCUTU VAI ENCAIXAR NOS DISPERSORES DAS FOTOS;
Os brucutus estão simplesmente colocados sobre os dispersores;
No KG, por ex. por onde sai a água?
No fusca, o modelo do dispersor é mais novo, o dispersor do brucutu é mais baixo, e a posição das saídas de água é diferente.
Pra que fazer isso?
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